As doenças do fígado e o glúten




Imagem retirada da Net

Um dos sintomas que o Lucas teve antes do diagnóstico e mesmo com as análises aos anti-corpos negativas, foi a alteração dos valores das transaminases. De análises para análise estas apresentavam-se mais alteradas, situação que se reverteu com o início da dieta sem glúten. Esta condição chamada de hipertransaminasemia pode ser uma das mais visíveis características  da intolerância ao glúten, pelo que penso ser importante que se divulgue mais informação nesse sentido. Coloco então um post em que traduzo umartigo do site celiac.com em que se aborda este sintoma.

“Em média, uma pessoa em cada cem tem a doença celíaca, o que significa que estas sofrem de uma variedade de sintomas associados com lesões intestinais e condições associadas. A pesquisa mostra uma ligação entre a doença celíaca e uma variedade de distúrbios hepáticos. As pessoas com doença celíaca têm uma maior ocorrência de certas doenças do fígado. Um dos problemas no fígado mais comummente apresentado entre os pacientes com doença celíaca é hipertransaminasemia isolada com alterações histológicas não-específicas.

Seguir uma dieta livre de glúten normalmente retorna a função e enzimas hepáticas ao seu estado histológico normal. As pessoas com doença celíaca também podem ter condições de fígado independentes, como a cirrose biliar primária, hepatite auto-imune, ou colangite esclerosante primária.

A maioria das pessoas não sabe muito sobre a doença celíaca. Mesmo a maioria das pessoas com doença celíaca ou intolerância ao glúten enfrenta uma longa curva de aprendizagem até se actualizar em todas as questões que lhe dizem respeito. Mas muitas pessoas com doença celíaca entendem que esta é uma condição na qual uma reacção auto-imune mediada pela presença de glúten de trigo, centeio ou cevada causa danos ao revestimento do intestino, que, se não for tratada, expõe a um maior risco de certos tipos de cancro, juntamente com a diabetes, e muitas outras condições.

Mesmo que seja do conhecimento dos médicos que a doença celíaca está associada com uma variedade de outras condições, até há pouco tempo, eram aquelas que estavam associadas à má absorção que estavam melhor documentadas. A maioria dos médicos e pesquisadores acreditavam que essas condições associadas eram o resultado directo da má absorção e duma absorção de nutrientes comprometida eu afectava pacientes com doença celíaca não tratada.

Recentemente, no entanto, começaram a surgir evidências que mostram a doença celíaca como um distúrbio multi-sistémico que pode afectar uma grande variedade de órgãos, incluindo os ossos, o coração, a pele, o fígado e o sistema nervoso. Estão a surgir elementos que mostram que, além de danificar o fígado total, a doença celíaca também pode agravar o impacto das doenças crónicas do fígado, quando os dois ocorrem juntos.

Para entender melhor a relação entre doença celíaca e distúrbios hepáticos diferentes, os pesquisadores Alberto Rubio-Tapia e José A. Murray conduziram uma revisãodestinada a explorar o espectro e patogenia das doenças do fígado associadas com a doença celíaca. Deste modo esperavam descrever melhor a conexão entre doença celíaca e os males do fígado, para melhor estabelecer uma base de diagnóstico e terapia para ajudar as pessoas com doenças crónicas do fígado e para melhor diagnosticar e tratar a doença celíaca.

Método de estudo
Em junho de 2007, os pesquisadores procuraram no PubMed em Inglês revistas que incluissem artigos completos com as seguintes palavras: doença celíaca, sprue, afecções hepáticas, comprometimento hepático, testes de função hepática, hepatite, colangite, e cirrose. Os pesquisadores analisaram 259 casos de pacientes com hepatite crónica C, e descobriram que estes tinham três vezes mais probabilidade de ter a doença celíaca do que um grupo de controlo de voluntários normais. A taxa foi de 1,2% versus 0,4% para o grupo de controlo.

Um segundo estudo mostrou uma prevalência de doença celíaca de 1,3% em 534 pacientes com hepatite crónica. Por último, as pessoas com doença celíaca mostram uma alta taxa de não resposta à vacina contra hepatite B. As taxas de não-resposta foram de 54% em crianças com doença celíaca e 68% em adultos celíacos.

Hemocromatose
A conexão celíaca para a hemocromatose é dupla. Há relatos de casos que mostram que a sobrecarga de ferro e diagnóstico da hemocromatose hereditária, muitas vezes obtém um tratamento de sucesso com a dieta. Além disso, uma análises de pacientes britânicos com doença celíaca mostraram uma maior ocorrência de mutação no gene (HFE) que controla a hemocromatose, o que pode indicar que a produção de ferro reforçada é uma adaptação para a absorção reduzida de nutrientes associados com a doença celíaca. No entanto, um estudo de pacientes celíacos italianos não mostrou nenhum aumento na mutação. Os investigadores suspeitam que qualquer relacionamento pode ser coincidência, já que ambas condições afectam um grande número de caucasianos.

Doença hepática gordurosa não alcoólica
Cerca de 10% a 25% da população em geral irá desenvolver doença hepática gordurosa não alcoólica. Quase 1 em cada 3 americanos diagnosticados com doença celíaca está acima do peso ou é obeso. Dois estudos diferentes mostraram que o número de doentes celíacos diagnosticados por biopsia com doença hepática gordurosa não alcoólica é de cerca de 3,5%, ou seja, três vezes maior do que a população normal.

Transplante de fígado
De 185 pacientes submetidos a transplante, 4,3%, ie mais de 4 vezes a população normal, tiveram resultados positivos para a doença celíaca. Em quase todos os casos, a causa da doença hepática em estágio final a requerer transplante foi de origem auto-imune.

Retirada do glúten
Em pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica, uma dieta sem glúten coincidiu com a normalização das alterações hepáticas em exame de sangue, mas os efeitos exactos de uma dieta sem glúten sobre as anormalidades desta e doutras doenças do fígado precisam de ser esclarecidos através de mais estudos.

Conclusões
A dieta sem glúten é um tratamento médico eficaz para a maioria dos pacientes com doença celíaca mais distúrbios hepáticos. O efeito de uma dieta livre de glúten na progressão de doenças hepáticas associadas com a doença celíaca é menos óbvio. Claramente precisam de ser realizados mais estudos para elucidar a relação entre a doença celíaca e os vários distúrbios do fígado.”

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