Celíaca com 2000 anos!!!

Se hoje em dia é difícil ser-se celíaco, num mundo rodeado de informação e crescentes alternativas alimentares isentas de glúten, o que diriam e fariam os celíacos há 2000 anos atrás?! 
Foi descoberto um esqueleto de uma mulher, com 2000 anos, em escavações arqueológicas de Cosa na costa da Toscana em Itália e que muito provavelmente teria doença celíaca. A economia de Roma nessa altura não era próspera dependendo do cultivo de trigo e de azeitona. Foram encontradas joias de bronze e ouro no seu túmulo pelo que os arqueólogos concluíram que seria relativamente rica, de classe social alta e com acesso a muita comida.
Terá morrido entre os 18 e os 20 anos de idade. Tinha baixa estatura (1,40 metros) (por atraso crescimento?), osteoporose (por má absorção, inflamação crónica intestinal, libertação de citoquinas?), hipoplasia do esmalte dentário, “cibra orbitalia” (poros nos ossos das orbitas e crânio; causa anemia ferropenica)) e mal nutrição. Ora estas condições não seriam de esperar dada a sua classe social abastada. São, no entanto, consequências de doença celíaca não tratada pela má absorção de nutrientes devido às lesões do duodeno provocadas pela ingestão de glúten.
O estudo genético de seu ADN a partir do osso e dentes revelou que tinha o genótipo HLA DQ 2.5 de alto risco para o desenvolvimento de doença celíaca.
Ainda a análise os níveis de nitrogénio e de carbono aos seus ossos comparativamente a outros datados da mesma altura revelou que durante a sua vida alterou os seus hábitos alimentares. Terá consumido preferencialmente carne e peixe nos seus últimos anos de vida. Sendo que residia numa região em que o consumo de vegetais (como o trigo) predominava terá realizado esta alteração na sua dieta por ter sintomas relacionados com a ingestão de trigo? Terá esta mulher alterado de facto seus hábitos alimentares de modo a se proteger inconscientemente dos sintomas causados pela ingestão de trigo / glúten?
Os dados antropomórficos e genéticos permitem-nos especular que esta mulher teria doença celíaca tal como pela primeira vez descrito pelo médico Areteus da Capadócia no ano 200 da era cristã. Este denominou o quadro clínico de koiliakos, do grego koelia (abdómen). Estes dados vêm reforçar a ideia de que a doença celíaca existe desde longa dada, talvez desde a introdução de trigo na alimentação humana.
Gasbarrini, G. et al. World J. Gastroenterol. 18, 5300–5304 (2012).
Scorrano, G. et al. Am. J. Phys. Anthropol. http://dx.doi.org/10.1002/ajpa.22517(2014).
http://www.nature.com/news/ancient-bones-show-signs-of-struggle-with-coeliac-disease-1.15128

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