Doença celíaca exige mudança de hábito de toda a família
"Imagine uma dieta que restringe a
ingestão de alimentos como farinha de trigo, aveia, centeio, cevada e malte.
Quem é celíaco apresenta intolerância a proteína conhecida como glúten que
compõe os cereais, eliminando do cardápio além das massas tradicionais, a
cervejinha gelada de domingo"
por Mariane Nava
A doença, também chamada de
Hipersensibilidade ao Glúten, é causada por uma reação à Gliadina, proteína do
trigo; Hordeína da cevada (e malte), Avenina da aveia e Secalina do centeio.
Essas proteínas são combatidas pelo organismo do celíaco. O intestino promove
uma inflamação para expulsar as proteínas, o que resulta na agressão e atrofia
das vilosidades presentes na parede do intestino delgado, comprometendo a
absorção de todos os nutrientes.
No mundo, uma a cada cem pessoas tem
intolerância ao glúten. No Brasil o número chega quase a um milhão de celíacos segundo
os dados da Associação de Celíacos do Paraná (Acelpar). Apesar de grande, esse
público ainda tem dificuldade em encontrar alimentos alternativos. Celíaca e
proprietária da loja Sabores e Saúde, especializada em produtos sem glúten,
Darlene Garcia, conta que descobriu possuir a doença por causa da filha que
também é intolerante: “Há dez anos descobrimos que a Fernanda era celíaca, na
época ela tinha seis anos. Agora, há uns seis meses, descobri que eu também sou
intolerante. Demorei para perceber porque ao contrário dela, eu não tinha
sintomas”.
A doença se manifestada quando a
pessoa ingere a proteína, e varia de individuo para individuo. Darlene diz que
sentia o intestino preso, mal estar e falta de ar, mas não tinha associado
esses sintomas à intolerância ao glúten. “A Nanda teve sintomas totalmente
diferentes. Mas se a minha filha era celíaca, tinha alguém da família que
também deveria ser. Por isso, há uns seis meses fiz os exames e descobri que
além de intolerante ao glúten, eu sou também a lactose”. Ao contrário da mãe,
Fernanda Garcia, apresentava cabelos e unhas quebradiços, dores no corpo e
alergias na pele. Darlene conta “quando a Nanda era pequena ela tinha diarreias
com odores muito fortes, além de enjoos e tonturas frequentes. Além disso, tudo
apresentava o abdômen distendido, o pediatra até tratou como se fosse uma
parasitose, uma giárdia. O que claro, não funcionou”. Ela diz que a doença foi
diagnosticada pelo médico endocrinologista que associou o peso e
desenvolvimento abaixo do normal, as olheiras constantes e a pele amarelada de
Fernanda à falta de nutrientes.
Exames de sangue, endoscopia ou
biopsia podem diagnosticar a intolerância. A doença é hereditária e medida a
partir do nível de destruição das vilosidades do intestino:
Quanto mais danificado o intestino
mais severos são os sintomas. A médica gastroenterologista, Sandra Valerin,
explica “quando há dano apenas no começo do intestino, o duodeno, a absorção de
cálcio e/ou ferro fica comprometida. Já se é a parede de todo o intestino que
está atrofiada, compromete-se a absorção de proteínas, gorduras, sais minerais
e vitaminas”. É a falta dos nutrientes no organismo que provoca os sintomas,
que são provenientes de outros problemas e não do glúten em si. Ao retira-lo da
alimentação, os sintomas tendem a desaparecer assim que os nutrientes perdidos
são repostos. A doença celíaca não tem cura ou tratamento, a saída é a não ingestão
do glúten. “Depois que descobrimos e tiramos o trigo, a aveia e os produtos com
cevada e malte, a Fernanda ganhou peso e passou a se sentir bem melhor”, conta
Darlene.
Quem é celíaco deve consumir grãos
como o milho, a soja e quinua. Além destes, o fubá, o arroz, a batata,
polvilho, mandioca, e farinhas desses grãos devem ser consumidos, pois são
importantes para fornecer os carboidratos necessários. É o que explica a
nutricionista Adriana Roveda Chastalo. Já alimentos como café de cevada,
cerveja e bebidas que usem o malte como ingrediente devem ser evitados. “O
tratamento é quase totalmente nutricional e consiste em manter o paciente com
dieta de exclusão ao glúten e seus subprodutos, isto significa remover da
alimentação totalmente o trigo, o centeio, a cevada, malte e a aveia”, explica
a nutricionista.
Associada a intolerância ao glúten
podem surgir outras doenças causadas pela desnutrição e carência de vitaminas.
“A falta de absorção de cálcio pode acarretar em osteoporose, a falta de ferro,
em anemia. Outros problemas relacionados a carência de nutrientes podem afetar
a tireoide, e consequentemente os hormônios, causando problemas no crescimento,
na menstruação e no metabolismo”, explica a médica. Ela fala que os celíacos
podem ainda desenvolver doenças como o diabetes, relacionada ao descontrole
hormonal.
Apesar de todos os cuidados, Fernanda
continuava ingerindo o glúten. “A Nanda era bastante rigorosa na alimentação,
sabíamos que não era intencional, ainda assim havia indícios. Daí fui radical,
tirei tudo com glúten de casa e fiquei mais rigorosa, perguntando em
restaurantes qual o tempero dos produtos, se no molho não tinha farinha para
engrossar e como eles eram feitos e armazenados. Só de trabalhar com o trigo no
mesmo ambiente ou assar no mesmo forno, já ‘contamina’ todos os outros
produtos”, conta ela. O glúten é um ‘pozinho’ que se espalha pelos utensílios,
mesa e ambiente. E qualquer resquício pode ser sentido pelos intolerantes.
Na casa da família, todos os
alimentos que contém glúten ou lactose foram ‘banidos’. O marido de Darlene,
Cleverson Gonçalves, não é intolerante ao glúten, mas entrou na dieta também.
“Não vejo problema. Já me acostumei a essa alimentação e não sinto falta da
outra”, conta ele. “No começo fazíamos uma travessa de macarrão para a gente e
outra para a Nanda. Tudo precisava ser feito duas vezes, era muito trabalho.
Agora fazemos tudo sem glúten, facilitando a vida”, diz.
O celíaco deve atentar aos rótulos
dos alimentos. Desde 2003, a Lei federal 10.674 obriga todas as indústrias a
informar nos rótulos se o produto contém ou não glúten. Medida de
segurança para os celíacos. “Apesar de algumas vezes a informação estar escrita
em letras muito pequenas, já é uma conquista”, diz Darlene.
Hoje, são comercializados diversos
produtos alternativos ao glúten, encontrados em lojas especializadas e em
grandes supermercados. Tradicionalmente feitos com trigo, macarrão, pães, bolos
e biscoitos ganham versões alternativas com farinha de arroz, milho, soja ou quinua.
“Esses alimentos são muito saborosos. Os bolos são bem parecidos tanto na
consistência quanto na aparência, e não perdem para os tradicionais. O maior
problema é o custo”, afirma Darlene. Um quilo da farinha especial sem glúten,
lactose ou açúcar custa R$12 reais, seis vezes mais que um quilo de farinha de
trigo. “Acredito que o governo deveria dar subsídios às pessoas mais carentes,
porque esses alimentos são necessários. Eu tento tirar o mínimo do lucro nos
produtos porque sei que as pessoas precisam”, diz.
Darlene e Cleverson mantém a loja na
casa da família, uma das únicas três em Ponta Grossa. Ela conta que a adquiriu
de outra pessoa também celíaca. “O que me motivou foi a necessidade da minha
filha por esses alimentos e a vontade de poder oferecer aos intolerantes mais
alternativas de produtos”, afirma. Segundo ela, há quase um ano a loja atende
pessoas de toda a região. Grande parte intolerante ao glúten, mas também
pessoas com intolerância a lactose, soja ou outros produtos.
Segundo a Acelpar, desde 2009 o
Ministério da saúde reconhece a doença no sistema de saúde. Em Ponta Grossa só
o exame de sangue é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na Santa Casa
de Misericórdia. A endoscopia e a biopsia, que também são formas de
diagnosticar a doença, precisam ser feitas por convênio médico ou particular. O
preço dos exames varia de R$150,00 a R$200,00 reais.
http://dentrodaredacao.wordpress.com/2012/04/18/doenca-celiaca-exige-mudanca-de-habito-de-toda-a-familia/
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